História


Itapuã (pedra de ponta)
Assim os Guaranis deram nome a esta região de morros, matas, campos, dunas e praias.
Coberta por exuberante vegetação, situada no extremo sul da Mata Atlântica, local de encontro
das águas do lago Guaíba com a Laguna dos Patos. De ricas fauna e flora, a região abriga cerca
de 40 espécies de anfíbios, 30 de répteis (cascavéis, cruzeiras, corais, jacarés e lagartos) e mais
de 200 tipos de aves, e muitas espécies migratórias abrigam-se para a reprodução na Lagoa
Negra. Mamíferos de médio porte, como jaguatiricas, lontras, graxains, gatos do mato, gatos
maracajás e primatas como o bugio ruivo, espécie ameaçada de extinção. Existem relatos não
confirmados de onças pintadas na área da reserva.
A flora, igualmente rica, exibe mais de trezentas espécies, tais como maricás, butiazeiros,
jerivás, corticeiras do banhado, figueiras, palmeiras, grande variedade de bromélias e orquídeas
e cactos.

A economia da região é baseada na agricultura e pesca. A produção de hortaliças folhosas e
frutas, produzidas pela colônia japonesa instalada na região é a maior do RS.
Na região está situada a Reserva Estadual de Itapuã, área de 5560 ha, duramente conquistada.
Comércio e alguns poucos serviços estão localizados na Vila, originada pelo desembarque dos
primeiros europeus colonizadores. Um aviário de médio porte, um clube náutico no local do
antigo porto, destruído na enchente de 1941. O cartório, uma escola de primeiro grau, o prédio
da associação de moradores, um salão de festas populares. O antigo leprosário, hoje hospital-
colônia, abriga egressos do reordenamento do HSP. Poucos campings, quase todos irregulares,
uma única pousada, de pequena capacidade, mas boa estrutura, a segunda Igreja católica,
construída em meados de 1800 (da primeira só restam ruínas, dentro da área do parque, que
hoje é local de reprodução de cascavéis). A igreja Nossa Senhora dos Navegantes, construída de
frente para a laguna, a praça principal, uma rádio local, uma única agência bancária, casas em
estilo português, na maioria sem muros nem grades. Esta é a Vila de Itapuã.

Histórias não oficiais contam que quem primeiro lá chegou foram os jesuítas, por volta de 1600.
Entraram na região pelo porto de Rio Grande, navegaram pela lagoa e lá tentaram aproximação
com os guaranis, visando a construção de uma missão cristã. Teriam sido expulsos da região
pelos índios, resistentes à cultura e religião trazida. Ainda segundo a lenda, os jesuítas voltaram
pelo mesmo caminho, navegaram ao sul, adentraram o Prata e lá chegando construíram a
Primera Missione Itapuã, no atual Paraguai, na clara intenção de mais tarde retomar o projeto
junto aos guaranis. Os navegadores da época pensavam ter descoberto um tipo de oceano de
água doce, e a chamavam Mar de Dentro.

A imigração açoriana no Rio Grande do Sul deu-se a partir do porto de Itapuã, primeiro porto
pluvial do estado. Percorrendo o mesmo caminho feito pelos jesuítas, os açorianos chegaram
a Viamão, tornando-a a primeira capital da província. O mesmo fizeram os imigrantes que
povoaram as margens dos rios Jacuí, Taquari, Gravataí, Sinos e Caí. Pelo porto de Itapuã
desembarcaram também os casais açorianos que criaram Porto Alegre.

O primeiro registro oficial de estabelecimento português na região data de 1725. Nesta época,
a província deixara de ser apenas um corredor entre Laguna e a Colônia de Sacramento.
Terras férteis, água em abundância e facilidade no transporte fluvial atraíram para a região de
Viamão e cercanias portugueses e até espanhóis, cansados das regiões de conflitos. E a porta
de entrada para estes novos habitantes era ainda o porto de Itapuã. Depois disto, por ordem
da coroa portuguesa, em 1773 vieram padres católicos com a missão de colonizar e catolizar a
região.

A região foi palco de batalhas durante a revolta dos Farrapos. Para chegar a Viamão, então
rebatizada pelos Farropilhas de Vila Setembrina, os Imperiais precisavam passar por Itapuã.
O nome de muitos lugares de lá teve origem justamente na revolução. Na Ilha da Pólvora,
os farrapos guardavam sua munição. No topo do Morro do Campista, na praia do Sítio, uma
enorme rocha chama-se Pedra do Bombeador, local onde os soldados espiavam (bombeavam) a
possível entrada de inimigos. A Ponta da Fortaleza era perfeita para emboscadas aos imperiais.
Era chamada assim por causa da fortificação erguida mais acima, onde se abrigavam os

Farrapos.
Já em 1945, no final da guerra, os Farrapos afundaram os dois “brigues”, (de nomes Vinte de
Setembro e Bento Gonçalves) veleiros equipados com canhões para evitar que os imperiais os
utilizassem. Próximo ao local, entre a praia do Sítio e o atual Farol de Itapuã, na época deserto
e de difícil acesso. Armas, balas, peças de canhões e algum equipamento naval já foi resgatado.

Passada a guerra, o aumento da navegação exigiu a construção de um Farol, em 1858. As
águas do encontro do Guaíba com a Laguna são de difícil navegação, zona de muitas pedras
submersas e forte correnteza. Depois, com a construção do cais em Porto Alegre, o antigo porto
teve sua atividade diminuída, prevalecendo a pesca, o melaço, açúcar e cachaça produzidos em
uma moenda que não existe mais. Mas a principal atividade do porto, a partir de então, passou
a ser o contrabando. Produtos oriundos da Argentina e Uruguai entravam no Brasil via lagoa e
eram estocados na Ilha do Junco. Daqui saíam, direto do porto de Itapuã, os produtos que eram
também contrabandeados para outros países. Se os sacos fossem pretos, o contrabando era
destinado a Porto Alegre. O Uruguai importava uma imensa quantidade de farinha de mandioca.
E dentro de cada saco de farinha, uma garrafa de cachaça dos alambiques locais.

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